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Fui desafiada pelo Eduardo, um dos proprietários da Bola de Tênis Delivery que mantém este blog, a escrever sobre as peculiaridades de se jogar em uma quadra de saibro.
Jogar em piso diferente do qual você está acostumado causa sempre uma estranheza.
Pode demorar algumas trocas de bola ou dias para que você consiga entender as diferenças. Isso vai dizer muito sobre sua capacidade de adaptação e resistência a mudanças!
Talvez seu estilo de jogo se encaixe melhor em um piso do que outro, e para adotar técnicas e estratégias diferentes, precisa ter disposição e otimismo!
Se você tem dúvidas específicas sobre o jogo no saibro, pode usar o índice abaixo para ir diretamente ao tópico que lhe interessa, caso contrário só role a tela para saber mais.
Um pouco mais sobre o saibro
No Brasil é comum vermos quadras de saibro. Principalmente em clubes e academias onde há um funcionamento comercial como aulas, locações ou torneios.
Em quadras públicas ou dentro dos condomínios vemos mais pisos sintéticos.
A sensação de se jogar no saibro pode variar conforme o lugar, a temperatura, umidade, quantidade de pó de telha…
Já joguei em quadras de saibro que pareciam até uma quadra de “tennis fast” (tipo de quadra bem rápida, muito comum antigamente).
Estou exagerando, mas quando a quadra está muito muito seca e quase sem pó de telha, a sensação que se tem é que a quadra está realmente muito rápida!
Em Brasília, onde morei por 6 anos, isso acontecia muito, por ser um clima predominante árido em algumas épocas do ano. Nessas horas tínhamos que afiar os voleios!!!
Também o bom primeiro saque chapadão e veloz faria uma boa diferença, já que no saibro tradicional, essa velocidade do saque não interfere tanto como nos pisos rápidos.
Pó de telha presente no saibro
O pó de telha é aquela areiazinha que fica por cima da terra batida, que é o saibro propriamente dito (terror de quem lava as meias encardidas…).
Sem esse pó, não conseguimos dar aquela deslizada comprida e bonita, como nos vídeos abaixo:
O pó tem a função de nivelar a quadra, pois suas pequenas partículas penetram na terra batida, deixando-a mais lisinha, principalmente após toda a manutenção de espalhar o pó e chuveirar.
Quando a manutenção é feita com todo carinho, a quadra fica uma delícia!
Mas quando a quadra está muito seca, ou já foi bastante usada, acaba desviando muito, acontecendo as jogadas do “morrinho artilheiro” e vários olés da bola na gente!
A movimentação pela quadra acaba formando vários montinhos de areia, naturalmente. Seria impossível isso não acontecer!
Já vi tenista passar o jogo inteeeeiro reclamando que a quadra está desviando.
Mas venhamos e convenhamos, vai ter que mudar de campo, se seguir a regra certinho. Então seu adversário também vai ter que ser rápido também pra se virar e rebater.
Essa é uma razão que faz o jogador ter que esperar um pouco mais o pingo da bola.
Quando se tenta entrar o tempo todo na subida da bola, além de não ser uma jogada muito eficiente, pela quadra ser mais lenta, pode acontecer esse negócio de desviar…Aí o tenista fica doido!!!
Tenista experiente em saibro sempre está procurando os morrinhos e passando o pé para alisar. Ou seria um tipo de TOC de tenista?
Aliás, uma aluna médica ontem me disse que na avaliação de aptidão para tenista, deveria ser requisito apresentar sintomas de TOC. Acho que não se salva nenhum…Brincadeira! Mas é sério…
Tenista costuma ser muito detalhista. E isso pode ajudar muito na evolução técnica dos golpes, e na percepção das sutilezas escondidas nas partidas de tênis.
A importância da chuva para o saibro
A chuva traz muita tristeza para a maioria dos tenistas. Sei bem disso.
Mas pelo lado da manutenção da quadra, é muito importante, pois a quadra de saibro precisa de água! Pode ver que depois de uma chuva, fica muito gostoso jogar.
A quadra fica mais assentada e lisinha! Aquelas subidas exageradas do quique da bola não acontecem. Parece que o pó de telha é bem absorvido, some, e a quadra vira um tapete!
Por que a bola sobe no saibro?
Aliás você sabe por que a bola sobe na quadra de saibro??
Aprendi essa no último curso que fiz da CBT (Confederação Brasileira de Tênis) – Curso CBT
O pó de telha faz uma rampa, quando a bola entra em contato com o solo, e isso a impulsiona para cima!
Decorrente disso, temos uma quadra que é lenta, no sentido de que a bola ao tocar o chão perde mais velocidade que a quadra sintética, mas ao mesmo tempo, ganha altura por causa da “rampinha”.
(Será que por isso tem tanto baloeiro no saibro?)
Técnica e tática no saibro
Como a bola sobe, é interessante que muitos jogadores de saibro desenvolvem uma empunhadura mais virada (western, full western) que é mais apropriada para rebater as bolas altas. (E você? Sabe sua empunhadura?)
Como a quadra é lenta, é mais difícil matar o ponto com poucos golpes. Dar aces ou winners muito cedo é difícil. Geralmente há muitas trocas de bola.
Com isso, o tenista precisa adotar uma estratégia adequada, para adaptar seu estilo de jogo.
O slice é um bom recurso no saibro, já que é uma ferramenta de defesa, e o saibro permite que a gente tenha tempo de chegar em algumas bolas que seria impossível na quadra rápida!
Também o drop shot ou curtinha, é uma jogada bem utilizada pelos bons jogadores de saibro. Na quadra rápida não é muito fácil fazer essa jogada.
Na rápida, joga-se mais perto da linha de base, e é difícil fazer a bola perder velocidade de forma que nosso adversário não consiga chegar a tempo.
Como no saibro, dá tempo de correr pra defender as bolas de ataque, o jogo de rede não é tão eficiente como nos pisos sintéticos ou grama por exemplo.
Não é impossível jogar na rede! Apenas dá mais tempo do “passador” (jogador do fundo) chegar na bola para fazer um bom contra-ataque. E isso acaba inibindo os apressadinhos do “saque-rede”.
Winner de fundo de quadra então…Difícil…Tem que ter um belo tiro a la Berdich!
Porque senão, não vai ser winner! E se for “meia boca” na paralela, toma uma bela cruzada de volta!
Por isso, ser um bom defensor ou contra-atacante é um bom perfil de jogador para o saibro.
Fiz um post recentemente de como ganhar jogos na defesa.. Depois leiam no meu blog: https://euamojogartenis.com.br/como-ganhar-jogos-na-defesa/ )
Vantagens e desvantagens do saibro para o físico-Lesões
Alguns tenistas já foram aconselhados por médicos a jogar apenas em quadra de saibro.
Geralmente quando possuem algum tipo de lesão nos membros inferiores (joelhos por exemplo) ou coluna. O saibro é capaz de absorver o impacto, diferente dos pisos sintéticos.
Como o piso “amortece” os impactos, alivia articulações como tornozelos e joelhos, mesmo sendo bastante solicitados em número de repetições do movimento.
No saibro, os tenistas costumam ter mais lesões de membros superiores (cotovelo, ombro) já que o jogo se prolonga bastante, obrigando o jogador a repetir muitas vezes os golpes.
Curiosidades: Rafael Nadal, nosso “Rei do Saibro”
Comparando com outros jogadores, Nadal tem uma velocidade de top spin maior que a de outros grandes jogadores.
Média RPM dos golpes (rotações por minuto)
- Murray 2.400 rpm
- Federer 2.700 rpm
- Djokovik 2.700 rpm
- Nadal 3.200 rpm
Fonte:
https://www.nytimes.com/video/sports/100000001028436/speed-and-spin-nadals-lethal-forehand.html
E o top spin, sabemos que é um efeito que faz a bola quicar no chão, e manter a velocidade da bola alta, acentuando a trajetória para cima (agravada em contato com a “rampinha” do pó de telha!)
O especialista em dados, Craig O’Shannessy, ressaltou a devolução de saque como destaque dentre as táticas de Rafael Nadal.
De 20 jogos no saibro, onde Nadal venceu 18 e perdeu apenas 2 para Dominic Thiem, ele:
- venceu 44,7% dos pontos quando devolveu o primeiro saque do adversário, contra 31,1% dos oponentes.
- quando devolveu o segundo saque venceu 52,4%, contra 33,2% dos oponentes.
Nadal se posiciona bem mais atrás na quadra para devolver o saque que os outros. Isso dá mais tempo de reação, possibilita um ponto de contato mais baixo, e uma condição de realizar a preparação completa do golpe, e não apenas bloquear a devolução.
Porém, O’Shannessy adverte que essa é uma forma que funciona para ele. E que talvez não funcione para os outros…
Em todo caso, nós podemos dar uma tentada. Vai que temos algum gene tipo Nadalesco…
Bolas de tênis para saibro
Pedi para o professor Hudson Cardia, que também é redator deste blog e que já escreveu posts comparando diferentes tipos de bolas de tênis, um trechinho específico sobre bolas para saibro:
“Uma coisa importante ao se escolher a bola que irá utilizar no saibro é se você já conhece a quadra. Ela pode ser mais pesada (lenta) ou mais rápida.
Dependendo da bola que usar, poderá tornar o jogo quase impraticável. Muitos fatores influenciam como o clima, altitude e quantidade de pó que essa quadra possui. Quanto mais pó, mais lenta ela se torna.
Na quadra mais lenta, a bola regular duty é a mais indicada. É uma bola específica para este tipo de piso pela quantidade de feltro sintético.
Isso faz com que a bola se torne mais rápida, cadenciando um jogo ou treino, que normalmente é mais lento por natureza.
A questão da altitude influencia muito pois quando jogamos em altitude maior, a bola também anda em velocidade maior. Mesmo sendo quadra de saibro, seria bom jogar com uma bola mais felpuda, auxiliando no atrito com o ar, cadenciando o jogo e diminuindo a velocidade.
Inclusive pesquisando-se podemos encontrar bolas específicas para jogos em que a altitude influencia na velocidade da bola.”
A loja Bola de Tênis Delivery, que mantém esse blog, possui modelos específicos para bolas do tipo Regular Duty.
Confira abaixo as opções:
Outros modelos de bolas também são mais indicados para o saibro como:
Babolat Roland Garros
Dunlop Grand Prix
Conclusão
Se a gente conhecer as peculiaridades da quadra de saibro, será importante para adequar nosso jeito de jogar, e assim ter sucesso nas nossas partidas.
Mesmo sendo saibro, podem haver muitas diferenças de uma quadra para outra (mais lenta por ter mais pó de telha, mais rápida por estar seca etc).
O saibro pode ser uma boa opção para evitar lesões nos membros inferiores por não ter um impacto tão agressivo com o solo, como as quadras duras.
Ainda bem que aqui no Brasil temos bastante saibro!
A técnica e a estratégia a se usar no saibro envolvem detalhes que favorecem aqueles que sabem jogar defensivamente ou contra atacando.
Nosso “Rei do Saibro” tem segredos que vão sendo revelados aos poucos. Podemos experimentar se funciona no nosso jogo!
E você? Conhece mais algum detalhe importante no saibro? Coloque embaixo nos comentários!
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Muito bom! Super didático e esclarecedor para os devotados praticantes deste instigante esporte???
Obrigada, Carlos! Detalhes que passam despercebidos podem ser importantes! Valeu pela sua participação!
Quadras duras de qualidade tem mecanismos de amortecimento, reduzindo problema com lesões nos membros inferiores.
Para quem está aprendendo a jogar a dura é melhor pois o quick da bola é mais regular. Pode-se usar bola lenta, com 75% da pressão oficial, para cadenciar mais o treino dos novatos e de quem quer aprender algo novo.
Na quadra dura o jogo dura menos, e o aluguel é mais barato. Aliás, tem muitas gratuitas e nos condomínios.
Na dura o quick é mais uniforme, isto facilita muito para quem tira o olho da bola.
Outro detalhe importante e que sendo uniforme o jogador tem um índice de acerto na zona central da raquete(sweet spot) bem superior, e este é um fator fundamental para bola andar mais.
Ou seja, no saibro a perda de velocidade também esta associada a um menor índice de acerto no centro da raquete.
Excelentes observações sobre as quadras duras, André! Eu também adoro uma quadra sintética emborrachada. Realmente os condomínios e quadras públicas, predominantemente terão esse tipo de piso. Obrigada pelas suas considerações!
Como professor vejo neste texto algo muito didático e acessível ao entendimento de tenistas em vários níveis. Professora Thais, você está de parabéns.
Renato, para os tenistas aprenderem sobre nosso complexo esporte, é importante facilitar a aprendizagem mesmo! Muito obrigada pelos elogios! Um abraço!
Artigo muito bem escrito e super didático. Muita coisa começa a fazer sentido para mim agora. Parabéns.
São tantos detalhes que nos perdemos né, Osvaldo? Essas conversas são boas para trocarmos nossas experiências com quem ama tênis! Obrigada pela sua participação! Um abraço!